quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Resumo e discussão do texto: "Visões de ciências e sobre cientista entre estudantes do Ensino Médio"

O texto discutido inicia com uma definição vernacular de Ciência e cientista, sendo esta carente de aspectos como o caráter dinâmico da descoberta, a natureza da dúvida, a influência de concepções diversas do sujeito, o processo de pesquisa, ou mesmo a existência de conflitos entre diferentes linhas de pensamentos sobre o que vem a ser a Ciência e aqueles que a praticam. Além desta, existem várias definições específicas que estão comprometidas com as práticas e valores de uma cultura representativa de sua área de conhecimento.
Ainda em relação a essas definições, as dimensões social, histórica, universal e objetiva, bem como as particulares da Ciência não poderiam ser apreendidas pelos estudantes por meio delas. Essa distância de como se fazem as Ciências e como elas são ensinadas seria fonte de muitos equívocos e desajustes entre como se pensa o mundo e se resolvem problemas nas salas de aula de quaisquer ciências.
Nas atividades realizadas em sala de aula os estudantes poderiam construir significados apropriando-se de elementos de linguagem cientifica e de seus procedimentos. Assim, quando os elementos da cultura científica pudessem ser “vivenciados” pelos estudantes, seria possível avaliá-los e confrontá-los com outras formas de pensar e agir, típicas de outras culturas. Pensar e agir cientificamente contribuiriam para entender-se no mundo e com o mundo, sustentariam decisões socialmente responsáveis e constituiriam-se em ações educacionais significativas. Uma das preocupações levantadas durante a discussão do texto foi se existe realmente essa possibilidade dos estudantes vivenciarem a ciência, já que o tempo que o professor dispõe é muito curto para transmitir os conteúdos, dificultando o uso de aula para outaras discussões e atividades. Além disso, o autor não propõe somente uma conversa sobre ciência, mas sim uma vivência de fato científica que exigiria a inclusão de diversas atividades contínuas geralmente não previstas pelos professores, exigindo uma grande mudança na forma de planejar e conduzir as disciplinas. Sobre a falta de tempo para discutir outras questões fora do conteúdo, também é preciso pensar que quando o professor começa a se questionar sobre certos assuntos, já não consegue simplesmente transmitir os conteúdos de uma maneira acrítica, assim mesmo sem perceber está levantando discussões e gerando reflexões em seus alunos.
Nesse artigo, as visões dos estudantes sobre Ciências e como agem os cientistas foram diagnosticadas por meio de uma dinâmica de discussões sobre o tema e registro de suas idéias por meio de textos escritos e desenhos. O levantamento das concepções foi realizado em uma escola particular paulistana, entre alunos de 15 a 18 anos.
Inicialmente foi solicitado que os alunos relacionassem as disciplinas do seu currículo, indicando aquelas que gostavam mais, as que não gostavam e as que dispensariam. Não houve consenso entre as disciplinas, mas pode-se observar que o grau de aprovação de uma disciplina é largamente dependente da imagem do professor que a ministra. Em um debate entre o pesquisador e alunos a seguinte pergunta foi feita: “ Vocês acreditam que há, de fato, diferenças entre as Ciências desenvolvidas por pessoas de vivências diferentes (como partido político e estado civil)?”, alguns disseram que não, pois o cientista é um empregado e trabalha de acordo com o mercado, e outros disseram que o trabalho científica não pode violar o código pessoal de ética.
Foi solicitado aos alunos que respondessem as seguintes questões: “Para que servem as expressões numéricas e as fórmulas usadas em Ciências?”, “ A natureza obedece às leis das Ciências?” e “O que é Ciências?”. Nas respostas, não se nota menção nenhuma à comunidade científica, predominando visões reducionistas escolarizadas.
Uma outra influência, além do livro didático e professores (que não contextualizariam fórmulas e expressões numéricas), determinante para moldar as visões de Ciências dos alunos é a dos veículos de comunicação e mesmo de divulgação científica. Em programas de televisão a forma de divulgação científica seria o apelo do espetáculo sensibilizador das emoções, e pouca atenção seria dada ao processo de produção científica.
Foi pedido aos alunos que desenhassem as ações do cientistas em dias diferentes e em horários diferentes do mesmo dia. Em todas as representações observa-se um cientista do sexo masculino, solitário e interagindo somente com seu mundo. Nos horários de folga o cientista é representado sozinho, perdido no papel vazio. Chamou a atenção durante a discussão todo aparato tecnológico que circundava os cientistas em alguns desenhos. Essa relação que o cientista tem com as máquinas aparece claramente, inclusive no pôster de uma mulher nua colado na parede do laboratório, lembrando o ambiente de uma oficina mecânica. Tudo isso desconsideraria a troca de informações entre pares, as elaborações teóricas e as próprias ciências não experimentais. Diante de todos os estereótipos de cientistas apresentados pela pesquisa, surgiram questionamentos sobre outros possíveis estereótipos, como em relação a professores e outras profissões. Será que se os alunos tivessem que representar a ciência e não o cientista apareceriam estereótipos tão marcados? Para alguns talvez com a mudança da pergunta de pesquisa para ciência ou para alguma profissão mais específica os resultados encontrados não fossem tão homogêneos como os retratados no texto, já que a palavra cientista nos remete diretamente a estereótipos, inclusive para nós estudantes da graduação, que não nos consideramos cientistas, mas sim biólogos, físicos, matemáticos.
Também foi discutida a origem desses estereótipos, já que possivelmente existiu uma intencionalidade dos primeiros cientistas de passarem idéias de neutralidade e excentricidade sobre si mesmos, considerando que o positivismo as defende, como apontado pelas definições vernaculares no início do texto. Atualmente, a ciência e o cientista também estão mais presentes no cotidiano da população, seja pelas pessoas conhecerem alguém que é cientista ou por receberem informações pela mídia, propagandas, anúncios e até mesmo através dos livros didáticos. Esses espaços podem contribuir para reforçar os estereótipos, como em campanhas para vender produtos que usam o cientista como forma de legitimação, ou nas representações presentes nos materiais didáticos, telejornais e revistas de divulgação científica que mostram o cientista sempre em laboratórios, de jaleco e cercado de máquinas, entre outros exemplos. Entretanto também podem servir para aproximar os cidadãos do mundo científico e da ciência, colaborando para desmistificá-lo.
Para o autor, o conhecimento sobre a natureza das Ciências sustentaria a aprendizagem em ciências, contribuiria para a utilização do conhecimento científico ao longo da vida e aguçaria nos estudantes a percepção sobre Ciências como atividade humana. O desconhecimento sobre como pensam e agem os cientistas impederia a aproximação dos alunos da cultura científica, gerando dificuldades de entendimento dos fenômenos tratados nas salas de aula de Ciências, e mesmo ausência de motivação para estudá-los.
Assim, as ações em sala se aula deveriam ser mediadas por um conjunto de ferramentas culturais típicas das Ciências, desde que convenientemente desenvolvidas e adaptadas para os ambientes de ensino-aprendizagem, pois elas servem de suporte tanto para o fortalecimento de comunidades escolares, como para a elaboração de significados compartilhados pelos seus membros.
Escrito por Clara de Souza Corat e Franciele Favero

Um comentário:

Patricia disse...

Gostei muito do texto, vocês colocaram coisas importantes que foram discutidas em aula. Realmente ficou grandinho, mas também não consegui pensar em como diminuí-lo, parece tudo super relevante! rsrsrs
beijos